segunda-feira, junho 20, 2005

Resposta polémica ou nem por isso


Ó meu caro António:
Como se não lhe baste viver numa das terras mais bonitas deste país, riquíssima em História, alcandorada em grés vermelho, cheirando a laranjais em flor e figos secos no almanxar, ainda me vem provocar com os seus comentários às minhas postagens? Claro que pode dizer o que o seu humor lhe ditar, mas comparar Vasco Gonçalves a Hitler??? E não lhe bastando tal felonia, ainda repete a comparança com a cópia tacanha e campónia que foi Salazar!... Olhe que podia ter escolhido outro arquétipo, digamos que Fidel de Castro, mais que não fosse pela extensão dos discursos…
E fico igualmente banzada com o seu arrepio de espinha em relação à minha “maioria de origem africana”. Pois não eram, ou preferia que fossem asiáticos? Ou americanos? Quiçá australeses? Geneticamente falando até poderiam ser meras sequências de amino-ácidos, que tudo iria desembocar no mesmo: o elo último da cadeia em que a meio está o Australopiteco africano ou o Homo erectus de Java ou de Pequim, ou ainda o Neandertal já europeu. Mas se preferir levar a questão para a área da antropologia, vamos a isso! É só dizer, que marcamos e-encontro e e-debate.
Espero que desta vez não se fique sem comentários, pois mesmo localmente blogando se pode chegar ao longe e à conversa directa.

Vasco


O mais novo dos três filhotes. Rebelde, inconformista, desafiador. As tatuagens e os piercings. Que usa e faz a quem queira usar.
Regressou hoje ao seu Algarve de adopção, mochila ás costas, skate debaixo do braço. Correndo à frente da vida, como sempre fez e fará.
Má que jête, moce...

Xicuembo em fim de tarde


Querido Carlos: “What’s a name?”, sim, que importância tem a troca de um nome, quando o mais importante esteve presente? O carinho dos abraços, o calor dos encontros, o feitiço das palavras, e em tudo a genuinidade de quem se quer bem, valem mais que um nome, seja ele qual for.
E foi assim, como em menino, que te vi no sábado. Mais que o homem feito e afeito a durezas mil, grisalho de cabelo e bigode, quem esteve ali foi um adolescente embaraçado com as palavras da primeira declaração de amor. Aquelas que se ensaiam diante do espelho, juntamente com o sorriso sedutor, e que à última hora falham, porque a alma, de tão pura e transparente, é inexprimível.
Obrigada, querido amigo, por partilhares connosco o carinho por Moçambique, pelo Ribatejo, pelos amigos que ali reuniste e a quem abracei com gosto. Houve xicuembo nesse final de tarde.

vai-se andando

Ó meu caro vamos lá por os pontos nos ii
de quem são os campos deste país
de você que diz que são seus porque os herdou
ou da gente que neles sempre os trabalhou

Quem vale mais do que o que tem
quem tem menos do que o que vale
quem tem cabeça para pensar
quem é que é o povo de Portugal

E que a terra é de quem trabalha pois bem
não é novidade para ninguém
mas é que você insiste em ser distraído
e em guardar para si o que nos é devido

E você a dizer-me que o silencio é de ouro ora ora
ouro assim é aquele que nos explora
não se vai amar quem assim nos explorou
quem me tem roubado de tudo o que sou

Mas não pense que vamos ficar na cepa torta
a injustiça a gente já não a suporta
temos força e razão e vontade para lutar
pela terra que é de quem a trabalhar

Ó meu caro vamos lá por os pontos nos ii
de quem são os campos deste país
de você que diz que são seus porque os herdou

Sérgio Godinho

(Um post do filhote Vasco, por engano de blogue. E pensando bem, nem destoa aqui...)