sexta-feira, março 18, 2005

Filho da mãe!

(Foto tirada daqui)
Finalmente apearam-no de vez, em Madrid. Mas não podemos esquecer que o ditador morreu de velhice e com pantufas calçadas.

O blogue do professor

Já o pendurei aqui ao lado. Apesar de às vezes não ter grande pachorra para o ar blasé, quase paternalista, a roçar um certo snobismo, a verdade é que não resisto a ouvi-lo sempre que posso ou o topo a meio de um zapping, menos ainda a devorar-lhe a produção literária, as crónicas, as estórias, com um gozo descomunal. Talvez porque ainda hoje, em temas relacionados com a sexualidade, me deparo muitas vezes com um silêncio hipócrita, um desviar de olhos para outro lado, a conversa a mudar de rumo, como se eu pretendesse entrar pela vida íntima de cada um. Eu, que detesto confidências de carácter tão pessoal!
A verdade é que ele não fala apenas de sexo puro e duro, mas de muitas outras outras coisas que até podem ter origem em frustações desse foro. Próprias ou herdadas. E que se projectam nos filhos, porque mais à mão, ou no vizinho, no colega, no ocasional parceiro de transportes. Mas sobre isso sabe e compete ao professor dar a explicaçãozinha. Mesmo com o tal ar paternalista e blasé...

Miguel Torga


Portugal

Avivo no teu rosto o rosto que me deste,
E torno mais real o rosto que de tou.
Mostro aos olhos que não te disfugura
Quem te desfigurou.
Criatura da tua criatura,
Serás sempre o que sou.

E eu sou a liberdade dum perfil
Desenhado no mar.
Ondulo e permaneço.
Cavo, remo, imagino,
E descubro na bruma o meu destino
Que de antemão conheço:

Teimoso aventureiro da ilusão,
Surdo às razões do tempo e da fortuna,
Achar sem nunca achar o que procuro,
Exilado
Na gávea do futuro,
Mais alta ainda do que no passado.

Coimbra, 16 de Dezembro de 1963