sábado, outubro 16, 2004

José Fanha



De repente


Olho para ti.

De repente és água
ou fonte
ou pedra.

De repente nuvem.

De repente rodopias
ao som
de valsas muito antigas
e encostas
a tua aventurosa timidez
a uma parede
de vento.

Olho para ti.

De repente
o azul incendiou-se.

De repente.

Fernando Assis Pacheco



O meu avô não lia versos

Teve pois que deixar a hortinha
que tanto amava e a fogueirinha do lar
e veio uma primeira vez descendo a corda
do litoral e como era moço moço
quis lá saber dos versos
da senhora Rosalía de Castro
parecia-lhe o país jeitoso
as raparigas tinham modos
suaves e de uma sem remédio
enamorou-se logo

mas isso foi da segunda vez
quando já era o garboso dono
de mula do seu comércio
em Sangalhos acharam-no um intruso
fizeram-lhe uma espera a tiro
safou-se com habilidade enfim casou

o neto é que muitos anos depois
chorava por ele ao ler na adolescência
téñovos pois que deixar
arboriños que prantei
fontiña campanas Virxe d'a Asunción
com um aperto no corazón