sexta-feira, dezembro 31, 2004

Um bom 2005!



Receita de Ano Novo

Para você ganhar belíssimo Ano Novo
cor de arco-íris, ou da cor da sua paz,
Ano Novo sem comparação com todo o tempo já vivido
(mal vivido talvez ou sem sentido)
para você ganhar um ano
não apenas pintado de novo, remendado às carreiras,
mas novo nas sementinhas do vir-a-ser,
novo até no coração das coisas menos percebidas
(a começar pelo seu interior)
novo espontâneo, que de tão perfeito nem se nota,
mas com ele se come, se passeia,
se ama, se compreende, se trabalha,
você não precisa beber champanha ou qualquer outra birita,
não precisa expedir nem receber mensagens
(planta recebe mensagens?
passa telegrama?).
Não precisa fazer lista de boas intenções
para arquivá-las na gaveta.
Não precisa chorar de arrependido
pelas besteiras consumadas
nem parvamente acreditar
que por decreto da esperança
a partir de janeiro as coisas mudem
e seja tudo claridade, recompensa,
justiça entre os homens e as nações,
liberdade com cheiro e gosto de pão matinal,
direitos respeitados, começando
pelo direito augusto de viver.
Para ganhar um ano-novo
que mereça este nome,
você, meu caro, tem de merecê-lo,
tem de fazê-lo novo, eu sei que não é fácil,
mas tente, experimente, consciente.
É dentro de você que o Ano Novo
cochila e espera desde sempre.
(Carlos Drummond de Andrade)

Intenções de Ano Novo

"Mas eu sempre reservo um tempinho para escrever - à mão - uma lista muito especial. A lista dos sonhos. A lista do que parece inatingível e inalcançável. É a lista mais ousada e atrevida. A lista das coisas saborosas, tentadoras, maravilhosas. É a lista das coisas que você até tem medo de escrever a respeito. É a lista "Abre-te Sésamo". A lista "Além da imaginação". É a lista mais importante de todas."
(...)
"Mas eu sempre me impressiono com o poder da palavra escrita. Escrever, para mim, é o que mais se aproxima de um ato de fé. Coloque seus sonhos, os mais loucos, os mais atrevidos, os mais coloridos, em uma folha branca de papel. Deixe a lista acessível. Pegue nela pelo menos uma vez por semana. Mantenha contato com a sua fantasia. Ela pode virar realidade."

(Diário de Lisboa)

E porque não?


Quis fechar a porta.
Uma palavra, um gesto,
um breve sopro, teimaram
em ficar presos à ombreira.
Nas sílabas do tempo,
interpõe-se como virgula
essa chave por rodar.
A porta ficará apenas
encostada, entreaberta,
um hífen na memoria.

Jorge de Sena


"POR ESTE ANOITECER"

Por este anoitecer, o ano acaba.
Cinzento e azul no céu por entre as árvores.
acaba o calendário. Muitos crimes dele
serão futuras efemérides nos outros
que, folha a folha, acabarão também.
Como anoitece igual este ano às noites
com que. dia por dia, o ano foi passando
gregorianamente. O mundo ocidental,
cesáreo, atlântico, ex-mediterrânico.
conta do Cristo. Mas os outros mundos
também contarão dele, quando este ocidente
deixar de fingir dele - os deuses morrem -
para funções de calendário laico.
O tempo passa, os calendários mudam,
na vida e morte as horas se sepultam.
E, no entanto, o tempo vai connosco;
é desta Terra só. E só por haver outros
que de outros astros são por haver este
diverso tanto a cada movimento.
Por este anoitecer, o ano acaba.

Tsunami

No Fumaças vem uma informação muito completa e actualizada, com ligações a outras páginas, sobre a catástrofe.
Por cá, vão aparecendo fenómenos destes:
"Na SIC Notícias passou uma reportagem onde entrevistaram portugueses que partiram depois da tragédia para a Tailândia, mantendo as férias marcadas como antes de tudo acontecer. Dulce Ferreira respondeu que já tinha as férias marcadas, que não tinha ficado nada preocupada com o que tinha acontecido, porque os pais, que lá estavam, tinham enviado uma msg a dizer que tinha havido "uns tsunamis e umas coisas", mas estavam bem. Quando a jornalista lhe pergunta se estava triste com toda a situação Dulce Ferreira respondeu: "Sim, claro, agora já não vou ter todas as condições de férias que iria ter se por acaso não tivesse acontecido nada disto. Por outro lado, estou contente, porque vejo as coisas mais ao natural, como elas são."
Estupidez? Ignorância? Egocentrismo?