segunda-feira, novembro 07, 2005

Memórias e votos

Visitando amigos, passei por “casa” do Carlos Gil e o que por lá encontrei deu-me asas para outros voos.

E apeteceu-me ir buscar as memórias de há uns bons quarenta anos, numa altura em que um grupo de amigos e conhecidos de uns ou de outros, de quando em vez, se reuniam em lugar sossegado e longe de vistas e olhares inconvenientes, sem outro propósito que não fosse o de conviver, conversar, ouvir “boa” música. Dessa vez o pretexto para nos reunirmos era o aniversário de alguém que, dias antes, tinha sido libertado de Caxias. E pais e filhos, sem conflitos geracionais, partilhavam pontos de vista, conversavam em pé de igualdade, e sobretudo passavam uma noite animada.

O mais irónico de tudo, e visto a esta distância de tempo, era a grande animadora destes encontros: Vera Lagoa, ou seja, Maria Armanda Falcão. Lá conseguia ela trazer consigo, o Carlos Paredes, o Adriano, e até o Alves Redol com a sua inseparável boina basca. Chegada a hora de dedilhar guitarras e afinar vozes, a malta nova sentava-se no chão, enquanto os mais velhos procuravam lugares mais confortáveis. À minha frente, a menos de metro e meio, o Adriano solta a voz e atira “Venho dizer-vos que não tenho medo...”. Senti-me trespassada pelas palavras ditas assim, ali tão perto, numa emoção difícil de descrever. Como se me elevasse acima de tudo, e tudo parasse naquele momento.

E agora, por conta do que o amigo Raul Calado escreveu, fui à procura na internet desse poema cantado pelo Adriano. De site em site, qual não é o meu espanto quando deparo com isto, escrito há mais de cinco anos, e que ocasionou discussão feia na então FPCCR, de cuja direcção eu fazia parte, porque o texto está cortado, estropiado, gralhado, o que retira todo o sentido que eu pretendi imprimir-lhe. Malhas que os pequenos ditadores tecem...

Adiante, que já são águas passadas. Não é pela poesia vigorosa, por vezes épica, que me persegue desde a “Praça da Canção”, mas é, isso sim, por ser a única candidatura presidencial em que acredito, que alegremente votarei. E a Cítera aportaremos.

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