sexta-feira, janeiro 07, 2005

Menino Jesus da Cartolinha


Há quase um ano, cheguei a Miranda do Douro debaixo de uma chuva gelada e de um frio impensável sob o sol de dois dias antes. A primeira visita teria que ser a este "menino" em tão estranhas e pouco católicas vestes, que por isso mesmo tanto me seduzia. E lá o encontrei, na altura envergando outro traje, mas com as mesmas botas feitas para calcorrear os alcantilados caminhos da sua região, e a curiosa cartola, tão pouco apropriada para os extremos climáticos de Trás-os-Montes.
As lendas são o que são, valem o que valem, mas que seria do nosso imaginário sem o seu encantamento? Quem saberia contar-nos estórias semelhantes, que criam as bases do nosso saber?



E este rapaz não desiste, antes insiste, em lampejar como um vagalume em suave noite de Junho. Aqui, ali, mais acolá, vai piscando insistente, e a gente a segui-lo, a perdê-lo, e a avistá-lo de novo lá adiante.
As luzes que traz consigo avivam memórias, dissipam sombras, cintilam no cinzentismo que nos querem impingir em cada dia. Luz marota, de esconde-esconde, disfarçando nostalgias com fulgores de traquinice...
Reencontro o irmão-camarada-amigo, cúmplice de tantas e tantas andanças nos idos de '60, redescoberto anos mais tarde em lides semelhantes, ainda partilhando os mesmos sonhos, as mesmas lutas, e sumido uma vez mais noutras veredas. Teias que a vida tece...
Se o mundo é tão pequeno que cabe na concha da mão, como ele diz, algum dia desavisado atira-nos de novo para os mesmos caminhos que, afinal, nunca se afastaram assim tanto. E entretanto, para que os laços se revigorem, compensamos o tempo da ausência com o valor acrescentado destas conversas blogueiras.
Porque a magia está em sabermo-nos tão próximo, seja aqui no mesmo recanto do ciberespaço, ou algures perto da grande cidade que nos conheceu há uma eternidade.