quinta-feira, fevereiro 10, 2005

Escrever >> Excrever



A gente pasma com a ignorância da língua portuguesa, entre outras ignorâncias, em que muito boa gente desta nossa terra vive mergulhada e convencida.
Imaginem que chegam à Junta de Freguesia de Carcavelos para requerer, em nome de terceira pessoa, uma determinada certidão. Preenchido o imprescindível impresso, dever-se-á assinar a pedido de F. Nestas coisas da burocracia é uso e costume anteceder a própria assinatura da expressão "a rogo de F..." e o respectivo motivo - não saber ou não poder escrever, etc. Pois a simpática e diligente jovenzinha que me atendeu hoje numa situação destas, escreveu "Arrogo". Dentro do meu inocente espanto, disfarcei o sorriso de condescendência perante o pontapé na língua materna e, discretamente, chamei-lhe a atenção para o termo por ela utilizado, ao mesmo tempo que lhe escrevia a expressão correcta. Tudo na boa intenção de que a mocinha teria vontade de juntar mais qualquer coisa ao que o seu provável 12º. ano lhe teria deixado na bagagem do aprendizado. Nada feito. A jovem insistiu comigo, já quase agastada, que como ela escrevera é que estava certo, porque assim é que lhe tinham ensinado. E quem sou eu, apagada cidadã deste país de luminárias, para a desmentir? Ainda lhe alvitrei, a título de curiosidade, que consultasse o dicionário. Mas saberá ela o que é isso?
Mais que a ignorância da funcionária da J. F. Carcavelos, assusta-me o aviltamento em que a língua portuguesa está a enterrar-se. Neologismos, muito bem. O português, como outros idiomas que se querem vivos, deve ser dinâmico, englobar novos termos, novas expressões. Mas que se respeite o que já existe e se fala. Quem o fará?