Ao fazer um rápido
zapping pelos canais da nossa televisão, deparo com esta:
Gala de Natal TVINão perca mais uma noite de muito glamour, dedicada à solidariedade E lá seguia a banda com todo o brilho e aparato próprios destes eventos, com patrocínio de banqueiros (não, não foi o BPN, mas o Santander-Totta...) e desfile de vedetas. Das verbas arrecadadas, anunciava uma eufórica apresentadora a quantia de quatro mil e tal euros. E cada um dos convidados, depois do discurso de circunstância, lá deixava mais uma nota dentro do "caixa das esmolas".
[Em aparte: o distinto administrador do ST muito falou na solidariedade e voluntariado que a sua instituição promovia, provavelmente a par de poupanças-crédito ou juros chorudos para gordos depósitos. Fiquei intrigada com isso: será que nestes tempos de vale-tudo os bancários também terão que ir, quais voluntários à força, distribuir caridadezinha pelos desprotegidos?]
Ai, Zé Barata Moura, como ainda estás actual...
Vamos brincar à caridadezinha
Festa, canasta e boa comidinha
Vamos brincar à caridadezinha.
A senhora de não sei quem
Que é de todos e de mais alguém
Passa a tarde descansada
Mastigando a torrada
Com muita pena do pobre,
Coitada.
Vamos brincar à caridadezinha
Festa, canasta e boa comidinha
Vamos brincar à caridadezinha.
Neste mundo de instituição
Cataloga-se até o coração
Paga botas e merenda
Rouba muito mas dá prenda
E ao peito terá
Uma comenda.
Vamos brincar à caridadezinha
Festa, canasta e boa comidinha
Vamos brincar à caridadezinha.
O pobre no seu penar
Habitua-se a rastejar
E no campo ou na cidade
Faz da sua infelicidade
Algo para os desportistas
Da caridade.
Não vamos brincar à caridadezinha
Festa, canasta e a falsa intençãozinha
Não vamos brincar à caridadezinha.