quarta-feira, julho 06, 2005

Manuel Bandeira


(Para a Gina, que me enviou por e-mail esta preciosidade)
Um Sorriso


Vinha caindo a tarde. Era um poente de agosto.
A sombra já enoitava as moutas. A humidade
Aveludava o musgo. E tanta suavidade
Havia, de fazer chorar nesse sol-posto.

A viração do oceano acariciava o rosto
Como incorpóreas mãos. Fosse água ou saudade,
Tu olhavas, sem ver, os vales e a cidade.
- Foi então que senti sorrir o meu desgosto...

Ao fundo o mar batia a crista dos escolhos...
Depois o céu... e mar e céus azuis: dir-se-ia
Prolongarem a cor ingênua de teus olhos...

A paisagem ficou espiritualizada.
Tinha adquirido uma alma. E uma nova poesia
Desceu do céu, subiu do mar, cantou na estrada...

Cultura para que te quero?


Somos uns felizardos! Arrotamos cultura por todos os poros, nem damos vazão à quantidade de espectáculos, exposições, concertos, que todos os dias enxameiam este país, desde as grandes cidades ás mais recônditas aldeias. Escolas, salas de espectáculo, galerias de arte, então, até extravasam os limites das povoações, de tantas e tão descomunais. E bem conservadas, fruto do empenho cuidadoso de governantes nacionais ou locais. Não há cidadão algum que não tenha quem lhe dance em exclusivo um “pas de deux” ou lhe execute em privado um quarteto de Mozart.
Nesta ordem de ideias, para quê fazer obras num vetusto e arcaico edifício com 170 anos de idade, o Conservatório Nacional? E a que propósito uma instituição privadíssima como a Fundação Gulbenkian deverá sustentar uns quantos bailarinos que se revolteiam num palco, sabe-se lá com que fins?
Para isso de músicas e danças, está por aí quem melhor saiba de ambos os misteres. Pelo Ministério da Cultura, consta que os assessores estudam colocação de voz, enquanto os administradores da Gulbenkian experimentam sapatilhas para ensaiar a “Morte do Cisne”…
Falando a sério: creio que nem o truculento “madeirense” ousaria tais atrocidades.

Arrastão ou arrastinho?

A comunicação social, no frenesi das "cachas", peca as mais da vezes por desinformar em lugar de informar. Fruto da competitividade desenfreada em que vivemos, mas isso já são outros quinhentos. A verdade verdadinha é que induz muito boa gente em conclusões mal ponderadas, como já me tem acontecido.
Vem isto à conta do tão falado e discutido arrastão da praia de Carcavelos, em dia feriado e calmoso. Afinal o ão ficou-se por inho, o que não deixa à mesma de ser preocupante. Naquela praia ou noutra qualquer. Mas está tudo explicadinho aqui e aqui. E mais não digo para não me enganar.

Alentejo, Alentejo...


"Nunca vi um alentejano cantar sozinho com egoísmos de fonte. Quando sente voos na garganta desce ao caminho, da solidão do seu monte, e canta em coro com a família do vizinho..."
(José Gomes Ferreira)