sábado, novembro 20, 2004

Montemor-o-Novo: os amigos, as aldrabas e a "ALDRABA"



Manhã soalheira a prenunciar o dia em que, de nome indefinido, a proto-associação toma definitivamente o nome de ALDRABA- Associação do Património Invisível. Das duas dúzias de entusiastas progenitores do bambino, juntaram-se dezasseis em animada jornada de convívio, cumprindo uma prévia etapa de consolidação do projecto: Montemor-o-Novo.
Nas Grutas do Escoural, alcançadas depois de um percurso imposto pelo I.E.P., que nos obriga a um desvio de mais uns 30 km, somos recebidos pela Tânia, futura arqueóloga e voluntária ao serviço do IPPAR, que nos guia pelo estreito labirinto de estratificações e estalactites. A Tânia sabe do que fala, esclarece e tira dúvidas, e até o J.P., na curiosidade dos seus seis anitos, mereceu resposta individualizada e esclarecedora.
De regresso a Montemor (um tanto aventuroso, ainda graças ao I.E.P.) reunimo-nos com a pintora Isabel Aldinhas e o marido, para retemperar forças e forrar o estômago com os primores gastronómicos saídos da cozinha da Ana Carina, no Restaurante Aviz.
A Ana desmultiplica-se em atenções, em petiscos, em sorrisos. A sopinha de cação aromada de poejos estava de comer e chorar por mais. A carne de forno na companhia de puré de castanhas, era um manjar de deuses. Os vinhos, néctares de fazer inveja a Baco ou Dionísio. A rematar, ainda a oferta de um Marquês de Montemor que apenas teve um senão: já não conseguimos bebê-lo até ao fim... Sobremesas e cafés por conta da casa. À despedida abraços de quem parece sempre ter-se conhecido e a promessa recíproca de outras visitas.
Tudo temperado com a boa disposição do grupo, a que não faltou um necessário "ponto da situação", pedra de toque indispensável para aferir o dinamismo da embrionária associação. A "ecografia" feita revela um bom desenvolvimento e uma grande vitalidade.
E quando tudo isto se passa num espaço revelador de bom gosto, paredes forradas de pinturas da Isabel numa exposição de seu tema "Vestígios Árabes", só podemos exultar!
Já a meio da tarde demandamos as ruas antigas da cidade, espreitando as aldrabas e batentes que muitas das portas ainda ostentam. O L.F.M. é desta vez o nosso guia em redor deste inestimável e muitas vezes esquecido património. A noite cai e ainda nos deslumbramos diante de batentes em forma de cão-gato ou de tritão ou de golfinho e até de serpente. Balançando entre a euforia e algum cansaço, arribamos por fim à "Fonte das Letras" onde, diante de um chá de jasmim e rodeados de livros que se deixam folhear sem pressas nem compromissos, encaramos de má vontade mas sem apelo nem agravo, o regresso a Lisboa, deixando o olhar na Torre do Anjo e um ramalhete de saudades no Largo de S. Sebastião...

Quem são eles afinal?



Ao nascer sempre há quem venha com defeito de fabrico. Os que não se aguentam nas trambiquentas pernas e os que já trazem a predisposição do olho enviesado. Aqueles a quem, sãos e escorreitos ao sair do materno ventre, se lhes amolenta a coluna vertebral com o passar dos anos e o acomodar ao jugo seu de cada dia. Os que vêm normalmente dotados de dois cromossomas 21 mas acham que mereciam três, e os que nunca virão a perceber se o segundo cromossoma de cada par que possuem será o X ou Y.
Nas duas últimas décadas, em Portugal, tem surgido uma outra espécie de seres que cumulativamente com algumas dessas imperfeições, são portadores um cérebro perfeito na forma, com todas as circunvoluções naturais, mas que estranhamente e decerto por efeitos de qualquer fenómeno paranormal, se vem a verificar ser de... esferovite! O seu aparecimento também dá a lugar a algumas pertinentes dúvidas, pois da progenitura (putativa?) que certificam não seria de esperar a produção de tais aberrações. Mas eles proliferam como cogumelos em manhã de chuva e, mistério maior, agrupam-se instintiva ou intuitivamente, em cargos-chave da nossa governança. Pública e privada. Entram e saem de uns e de outros, e de outros para uns, com a celeridade do "ainda bem não, já". Falam entre si numa linguagem criptográfica, à base de fonemas onomatopaicos, que por sua vez contaminam quem, até de longe, os possa ouvir mesmo que a contragosto. E estão em todo o lado, como se tivessem o dom da ubiquidade!
Ora isto leva-me a pensar em ficção científica. Serão eles alienígenas, súbitos invasores em massa, decididos a subjugar este bom povo de brandos costumes, até os exterminar definitivamente e fazer deste jardim à beira mar uma monumental estância turística para seu privado e eterno descanso? Ou anjos enviados pelo altíssimo para por à prova a nossa capacidade sacrificial e, a partir de 2014, termos garantido, sem preocupação de maior, o nosso confortabilissimo apartamento T6 em condomínio de luxo, com sauna, piscina, campos de ténis e de golf, e ampla vista para a nebulosa de Andrómeda?
Solicito esclarecimento para a caixa de comentários abaixo, de modo a programar a minha vida pessoal sem preocupações de maior.