segunda-feira, setembro 13, 2004

Palestina



Palestina, por Adalberto Alves

Podem pisar-te como à erva ruim
E dizer que essa terra não é tua,
Podem matar os teus, sacrificar-te,
Pretendendo que o teu reino é o da lua,

Podem forças obscuras conjurar-se
P'ra roubar o que desde sempre te cabia,
Podem queimar-te e arrasar-te
Mas não negar a luz do dia.

Podem erguer um muro de mentira
Para deter os ventos do deserto
Mas eles amam-te e são teus
Sempre voltarão e hão-de ficar perto.

Teus filhos hão-de saber salvar-te,
Terra mártir, altiva e beduína,
E a meiga pomba da paz e da alegria
Pousará, de novo, em ti, Ó Palestina.

(Este poema foi lido pela primeira vez durante a Exposição Cultural Palestiniana levada a cabo em Beja, pela respectiva Câmara Municipal e pela Representação da OLP em Portugal, em 11 de Julho de 1986. O autor é poeta tendo-se dedicado ao estudo e tradução da poesia árabe clássica. )

As taxas na saúde

Acerca deste tema e de outros no mesmo contexto, apetece-me falar de Minsk, na Bielossússia. Estive lá há dezanove anos, ainda era a URSS, embora já em plena glasnost. Do programa da estadia fazia parte a visita a um hospital que na altura já possuía o mais avançado, a nível mundial, Centro de Hemodiálise. À vista dos europeus ocidentais, o hospital tinha aquele ar “pobrezinho” ou “remediado”. As enfermeiras, apesar de vestidas de branco impecável, envergavam umas fardamentas que poderiam ser tudo menos “uniformes”. Cada bata ou avental era de um modelo diverso de qualquer outro e com ar bastante usado. As meias e sapatos que calçavam pareciam herança da Florence Nightingale. Os médicos tinham sensivelmente o mesmo aspecto impecavelmente asseado, mas lastimoso. Claro que isto me impressionou e não posso dizer que bem. Mas em conversa com outros companheiros de viagem - devo salientar que de convicções políticas bem diversas das minhas... - todos chegámos à conclusão de que esses seriam pormenores de somenos importância se comparados com a elevadíssima qualidade de serviços prestados na unidade hospitalar. E nesses idos de 1985 ainda a saúde era gratuita na então URSS...
Sem mais comentários.

Pinto ou ovo goro?

O senhor chama-se Mário Pinto e a rubrica A Tempo e a Contratempo. No Público de hoje desvaira o dito senhor, que não conheço nem certamente me interessa, sobre o WoW e com o título “Em vez do amor, o aborto”.
De más intenções, de necedades e de demagogia está o mundo cheio. Pelo que se dispensaria este patético agitar de fantasmas. É tal o rol de dislates que este senhor profere que, se os analisasse um a um não me sobraria tempo para outra coisa e tenho mais que fazer.
“(...)a onda em que parece que muita gente embarca, uns para ganhar dinheiro, outros para ganhar notoriedade progressista, outros (admito-o) por convicção mais ou menos induzida(...)”
“Com efeito, o que são as massas, o que é uma multidão? É um grande número de indivíduos. E o que é a opinião de uma multidão? É apenas uma multiplicidade de opiniões individuais. Mas se a opinião de uma multidão, ou a opinião mediatizada, tiver maior importância do que a opinião do conjunto dos indivíduos, então de que origem procede esse acréscimo de força de opinião? A quem deve atribuir-se? A verdade é que esse acréscimo não pertence a nenhuma pessoa, não tem origem em nenhuma vontade nem em nenhuma liberdade pessoal. Portanto, não tem legitimidade democrática. Nas eleições, só conta a soma dos votos
individuais.“ Seremos todos uns papalvos ávidos de protagonismo?
E já agora gostava que me explicassem qual a diferença substancial entre “uma multidão” e “o conjunto dos indivíduos”. Insinuará o dito senhor que uns são a “turbamulta” e os outros o “escol”?
E termina:“Em qualquer caso, essa tal força colectiva de opinião, que pressiona a opinião de cada um, não é uma entidade inequívoca. Poderá ser tudo o que se quiser, mas, em minha opinião, não tem legitimação verdadeiramente democrática porque não procede de um jogo comunicacional verdadeiramente personalista, e de facto pressiona as pessoas. Creio, por isso, que é um perigo para a democracia personalista e humanista. Os "media" deviam ter isto em atenção. Já que se consideram guardiões das liberdades individuais. A democracia que perde de vista este princípio torna-se na demagogia.(...)”.
Este senhor certamente vota, para votar escolhe um partido ou força política, para essa escolha houve uma motivação. Como escolhe? Será um iluminado? Nasceu assim? Ou terá sido influenciado pelo “conjunto dos indivíduos” da mesma forma que parece ter sido “induzido” por “uma multidão” a abortar o que até poderia ser uma argumentação convincente?

Ciganos

Como ciganos entre sul e viagem
do outro lado do rio
como ciganos somos de outra margem.

Nosso amor é bala e desafio.

E todos os amantes são raianos
como os ciganos de passagem
como os ciganos.

(Manuel Alegre)