domingo, abril 30, 2006

O meu Manelinho



Tinha três anos e estávamos de férias na Quarteira. A praia era pouca para ele e para as suas investidas mar adentro. Destemido e sem dar cavaco a ninguém, mal nos instalávamos e já ele largava chinelas e toalha de banho e lá ia, todo lampeiro, ao primeiro banho da manhã. Regressava feliz, cheio de areia e com o calção a fugir-lhe pelo rabiosque abaixo.

Hoje este menino faz 33 anos. Homem feito, com certezas e dúvidas, um coração onde cabem todos os afectos, é ainda o meu Manelinho...

Na Messejana


foto: guida alves
Com passos de ir e vir, de sair e de entrar, se faz a vida de uma soleira de porta. Desgasta-se a pedra e a tinta, para voltar a ser pedra e tinta, uma e outra vez, enquanto alguém insistir em habitar o espaço para dentro da porta, ou sentar-se à entrada, nas réstias de sombra que a estival tarde soalheira permite, ou sorvendo com avidez os avaros raios de um sol invernoso. E conversa-se, conta-se e reconta-se histórias, ou cala-se um silêncio feito de gestos moles, ténues, sublinhando o passar do tempo.

Sidónio Muralha

Romance

Depois daquela noite os teus seios incharam;
as tuas ancas alargaram-se;
e os teus parentes admiraram-se
e falaram, falaram...

Porque falaram duma coisa tão bela,
tão simples, tão natural?
Tu não parias uma estrela
nem uma noite de vendaval...

Mas tudo terminou porque falaram.
Tu fraquejaste e tudo terminou.
- Os teus seios desincharam;
só a tristeza ficou.

Ficou a tristeza duma coisa tão bela,
tão simples, tão natural...

- Tu não parias uma estrela,
nem uma noite de vendaval... .............................. ...............foto: andrez irrazabal