Poucos anos após a revolução dos cravos, o avô, no cumprimento de funções autárquicas, viajou até Estugarda e Londres. Coisa rápida, 3 ou 4 dias, o tempo indispensável para ficar a conhecer novos métodos aplicados à recolha dos resíduos sólidos, mais vulgarmente designados por “lixo”.
No regresso, a família foi esperá-lo ao aeroporto, nem os netos pequenitos faltaram. Ei-lo que emerge do corredor das “chegadas”, com a parca bagagem que levara consigo e sobraçando atabalhoadamente uns quantos embrulhos, prendas para a família compradas à pressa no free-shop do aeroporto de Heathrow.
Já no carro, de regresso a casa, a ânsia dos miúdos não os deixou esperar mais. E vai de puxar, rasgar, estraçalhar embrulhos e sacos de plástico para ver quais as surpresas. Para a mais velha tinha o avô escolhido um boneco, mais um para enfileirar junto da outra meia dúzia que ela já maternizara. Depois da descoberta, o espanto: “Ah! É preto!...” E uma cara de decepção. Pouco ou nada lhe ligou, convencendo-nos de que a genética nada tinha feito em matéria de anti-racismo. Mas sempre era mais um “filho”, e um filho, tenha a cor que tiver, merece um nome. Foi assim que a par das Sandras, ou Joanas, ou Catarinas (nomes que me ocorrem agora), todas meninas, passou a enfileirar o “António”. Bizarria nos pareceu na altura, mas a verdade é que o António foi o primeiro varão da família de brincar.
Largos anos mais tarde, comentando este episódio, é que ela explicou tudo. A surpresa e o ar de espanto, tinham-no sido pela positiva, uma outra forma de manifestar o agrado pela diferença. Daí o nome. E o facto de eu passar a ser “avó” de um menino africano, vindo de Londres por avião…