O Casal de Vale de Oressa
Nos meus tempos de criança, nada e criada no Cacém de cima, perto de campos e quintas, lembro-me que, quase no final da Estrada Marquês de Pombal, antiga via de comunicação com as Mercês e a sua Feira de Outubro, havia um velho “casal saloio” com o apropositado nome de Casal de Vale de Oressa. Efectivamente, naquele ponto da estrada, estendia-se para norte um vale suave, aberto às aragens (oressas) e que, em parte, era pertença do ”Casal”. Já por essa altura se ia escrevendo “ouressa”, como constava da placa em azulejo ladeando o portão, e em época de pouca escolaridade e menos letras. Pequena diferença na pronúncia e na leitura, apenas notada pelos mais instruídos que, mesmo assim, não lhe faziam reparo. E na mesma ordem de ideias, certamente pelos mesmos motivos, não tardou que surgisse na toponímia local a homófona “Oureça”.
Com os anos, muitos, o patobravismo desenfreado tomou conta de campos e vales por todo o lado onde se pudesse substituir um pinheiro ou uma moita de carrascos por um caixote de betão, desalojando uma centena de pardais e meia dúzia de coelhos bravos, para em troca encafuar famílias inteiras, essas humanas, em setenta metros quadrados. Mas essa história entra noutro capítulo.
E aqui já entra a (in)competência de funcionários municipais pouco ou mal preparados, e a ignorância obscena de chefes de divisão, de serviço, de departamento, quando não de autarcas. Repete-se a asneira crassa de Cahora Bassa, onde um h manuscrito se converte em b por artes de dactilógrafo míope ou pouco atento. Ou seja, o antigo “Casal” desaparece, retalhado em lotes de dormitórios, e assume o estatuto de Bairro, Bairro da Oureça, onde a porca começa a torcer o rabo. A exemplo de Cahora Bassa, o ç perde a cedilha. Simples resíduo sem importância, a ignorar portanto, ou tecla em falta na máquina de escrever? Nem o diabo o saberá, decerto.
Pois bem, para exaspero de ouvidos e olhos de quem conheceu o velho “Casal”, passámos a ter uma Oureca, sem significado nem história. Também, quem ligaria ao nome do dormitório desde que soubesse o número da camarata?
Com os anos, muitos, o patobravismo desenfreado tomou conta de campos e vales por todo o lado onde se pudesse substituir um pinheiro ou uma moita de carrascos por um caixote de betão, desalojando uma centena de pardais e meia dúzia de coelhos bravos, para em troca encafuar famílias inteiras, essas humanas, em setenta metros quadrados. Mas essa história entra noutro capítulo.
E aqui já entra a (in)competência de funcionários municipais pouco ou mal preparados, e a ignorância obscena de chefes de divisão, de serviço, de departamento, quando não de autarcas. Repete-se a asneira crassa de Cahora Bassa, onde um h manuscrito se converte em b por artes de dactilógrafo míope ou pouco atento. Ou seja, o antigo “Casal” desaparece, retalhado em lotes de dormitórios, e assume o estatuto de Bairro, Bairro da Oureça, onde a porca começa a torcer o rabo. A exemplo de Cahora Bassa, o ç perde a cedilha. Simples resíduo sem importância, a ignorar portanto, ou tecla em falta na máquina de escrever? Nem o diabo o saberá, decerto.
Pois bem, para exaspero de ouvidos e olhos de quem conheceu o velho “Casal”, passámos a ter uma Oureca, sem significado nem história. Também, quem ligaria ao nome do dormitório desde que soubesse o número da camarata?
Mas não ficam por aqui as atribulações de um nome mal fadado. “Oureca? O que é isso? O que eles querem dizer deve ser Eureka!” E, qual Aristóteles saloio, alguém terá ido ao fundo em vez de flutuar, e eureka!, assim se descobre um outro princípio: um nome mais finaço para o bairro, afogando de vez tradições e etimologias. Sem que ninguém pestaneje sequer ou, de alguma forma, tente chamar a tenção para o crasso erro e ridículo desvario.
Por mim, já que tenho que utilizar essa aberração, escrevo simplesmente “Eureca”!
Por mim, já que tenho que utilizar essa aberração, escrevo simplesmente “Eureca”!