VEMOS, OUVIMOS E LEMOS
"cumpridos os deveres compridos deixaram
de assediar minhas horas
doce a liberdade retoma em si minha leveza antiga"
Sophia de Mello Breyner
quinta-feira, abril 14, 2005
Erotismos e não só
De vez em quando passo por aqui e delicio-me com o que leio e vejo. E depois ainda há ligação para mais estas e outras semelhantes... Ora digam lá se não vale mesmo a pena!
Inveja em sol maior
Apesar da muita polémica por aí desencadeada, quanto a mim isto é uma bela peça arquitectónica. Ainda por cima com uma sala de concertos que, dizem, tem a uma das melhoras acústicas do mundo! Ai, ai, por cá ficamo-nos com um bunker chanado CCB. Pela primeira vez sinto uma certa invejinha das gentes da "Inbicta"...
Ena, tantos!
Em boa hora este "murcom" chegou à blogosfera e logo viu e venceu! Não é que o magano, só nesta "posta", já vai em 243 comentários??? Pudera, com um tema destes deve ter deixado muito boa gente a pensar. Cá a mim deixou...
António Gedeão
Poema da malta das naus
Lancei ao mar um madeiro,
espetei-lhe um pau e um lençol.
Com palpite marinheiro
medi a altura do sol.
Deu-me o vento de feição,
levou-me ao cabo do mundo.
Pelote de vagabundo,
rebotalho de gibão.
Dormi no dorso das vagas,
pasmei na orla das praias,
arreneguei, roguei pragas,
mordi peloiros e zagaias.
Chamusquei o pêlo hirsuto,
tive o corpo em chagas vivas,
estalaram-me as gengivas,
apodreci de escorbuto.
Com a mão direita benzi-me,
com a direita esganei.
Mil vezes no chão, bati-me,
outras mil me levantei.
Meu riso de dentes podres
ecoou nas sete partidas.
Fundei cidades e vidas,
rompi as arcas e os odres.
Tremi no escuro da selva,
alambique de suores.
Estendi na areia e na relva
mulheres de todas as cores.
Moldei as chaves do mundo
a que outros chamaram seu,
mas quem mergulhou no fundo
Do sonho, esse, fui eu.
O meu sabor é diferente.
Provo-me e saibo-me a sal.
Não se nasce impunemente
nas praias de Portugal.