segunda-feira, novembro 15, 2004

Lisboa - Ribeira 1880


Moleskines



Eu devia arranjar uma coisa destas. Bonitinha e tudo como a da foto. Porque nem uma miserável agenda eu tenho. Passo a vida a tomar nota de números de telefone em papelinhos avulso que encontro na carteira e para onde regressam com o apontamento feito. Desde a conta do supermercado a talões de portagens tudo vai servindo para esse fim. Qual bloco de notas, qual carapuça! Até na palma da mão, com esferográfica, já tenho anotado moradas ou "dicas" que apanho aqui e ali. E isto também acontece porque sei que sou tão distraída, que mesmo tendo uma destas, assim lindinha e tudo, acabaria por a deixar algures, e quando precisasse... lá teria que voltar a safar-me com os tais papeluchos. Mas entre uma coisinha como esta e uma carteira atafulhada de papéis, parece que não deve haver grandes hesitações. Vou pensar nisso.

Sophia de Mello Breyner



As pessoas sensíveis

As pessoas sensíveis não são capazes
De matar galinhas
Porém são capazes
De comer galinhas

O dinheiro cheira a pobre e cheira
À roupa do seu corpo
Aquela roupa
Que depois da chuva secou sobre o corpo
Porque não tinham outra
O dinheiro cheira a pobre e cheira
A roupa
Que depois do suor não foi lavada
Porque não tinham outra

"Ganharás o pão com o suor do teu rosto"
Assim nos foi imposto
E não:
"Com o suor dos outros ganharás o pão".

Ó vendilhões do templo
Ó construtores
Das grandes estátuas balofas e pesadas
Ó cheios de devoção e de proveito

Perdoai-lhes Senhor
Porque eles sabem o que fazem.