terça-feira, dezembro 28, 2004

Aparências que não iludem

Eles mentem e mentem e mentem!
A realidade é que os subsídios de desemprego e de doença ainda não chegaram ás mãos dos seus legítimos destinatários. Em Dezembro, tem sido norma antecipar três ou quatro dias o seu pagamento, pois aí pelo dia 26 ou 27, quem o recebe por crédito na conta bancária, pode contar com ele. Inexplicavelmente este ano estava a atrasar-se… Já sabemos porquê!
E desavergonhadamente negam as evidências!
Por “coincidência” há o cuidado de fazer entregar em mão, por funcionários de Repartições de Finanças, avisos de pagamento de IRS de anos transactos, porque (alegam) pode não chegar a tempo ao contribuinte…
Ou seja, o jogo do rapa-e-tira-mas-não-deixa-nem-põe, atinge foros de paranóia nas tenebrosas mentes de quem nos desgoverna. Há que deitar mão a tudo para que o défice de 2004 não nos deixe de rastos perante a União Europeia. Não se venderam os imóveis dos serviços públicos, vai-se à pressa encontrar outras soluções para encanar a perna á rã! E se isto não chegar, suspende-se o pagamento das reformas, o Serviço Nacional de Saúde, e por aí fora, que gente desta, desempregados, velhos e doentes, só dá prejuízo ao Estado!
O que importa é manter as aparências, mesmo que estas já não iludam ninguém.

Florbela Espanca




Da minha janela
Mar alto! Ondas quebradas e vencidas
Num soluçar aflito e murmurado...
Ovo de gaivotas, leve, imaculado,
Como neves nos píncaros nascidas!
Sol! Ave a tombar, asas já feridas,
Batendo ainda num arfar pausado...
Ó meu doce poente torturado
Rezo-te em mim, chorando, mãos erguidas!
Meu verso de Samain cheio de graça,
Inda não és clarão já és luar
Como branco lilás que se desfaça!
Amor! teu coração trago-o no peito...
Pulsa dentro de mim como este mar
Num beijo eterno, assim, nunca desfeito!...