sexta-feira, dezembro 09, 2005

Lisboa e a sua Baixa .1

De todos os locais de Lisboa, um dos mais carismáticos, ou mesmo míticos, é a Baixa. Aí se concentrava até há umas dezenas de anos o melhor do comércio tradicional. Mais para sul, para o lado do rio, ficava a fina-flor da alta finança e os ministérios.
E quem queria fazer compras, ia à Baixa. Pela Baixa se deambulava, vendo montras enquanto se fazia horas para o cinema. Em horas de ponta, as ruas da Baixa enchiam-se de gente apressada, saida de comboios, autocarros, eléctricos, com a preocupação de não perder o "ponto".
Características que se perderam a pouco e pouco, com o advento das grandes superfícies, a deslocalização de ministérios e serviços para outras zonas da cidade, a par do desaparecimento de muitos moradores. A Baixa perdeu muito da sua vitalidade, parte do comércio correu taipais, a vida tornou-se mais cinzenta. Dos poucos sobreviventes, alguns renderam-se a um internacionalismo vistoso e de alto preço, só acessível a poucos. Mas os prédios, as casas, as antigas lojas, não deixaram morrer as velhas marcas. Elas persistem, gravadas na pedra, pintadas no vidro, numa espécie de aculturação. E as pessoas continuam a percorrer as ruas em passo lento ou estugado, esquadrinhando as antigas matrizes, aprendendo novas referências. Ou passando simplesmente, sem saber de mudanças e novidades.

Lisboa, Praça da Figueira
PB290019
PB290022
PB290029
PB290036

Aguinaldo Fonseca (Cabo Verde)


Mãe negra

A mãe negra embala o filho.

Canta a remota canção

Que seus avós já cantavam

Em noites sem madrugada.

Canta, canta para o céu

Tão estrelado e festivo.

É para o céu que ela canta,

Que o céu

Às vezes também é negro.

No céu

Tão estrelado e festivo

Não há branco, não há preto,

Não há vermelho e amarelo.

- Todos são anjos e santos

Guardados por mãos divinas.

A mãe negra não tem casa

Nem carinhos de ninguém...

A mãe negra é triste, triste,

E tem um filho nos braços...

Mas olha o céu estrelado

E de repente sorri.

Parece-lhe que cada estrela

É uma mão acenando

Com simpatia e saudade...