segunda-feira, janeiro 17, 2005

Miguel Torga

(Rubens)
A Diana
Senhora, minha esquiva namorada,
Que Rubens retratou de seio ao vento:
Que fresca e promissora madrugada,
E que amigo convite ao movimento!

Vão acordando os montes na lonjura,
Orvalhados da seiva que beberam
Durante o sono;
E erguem-se da negra sepultura,
Onde à noite desceram,
Os matizes do outono...

Táctil e sezonado,
Vem ao nariz o cheiro dos valeiros;
E são urzes, e fetos, e o sagrado
Rosmaninho florido e desfolhado,
Na retorta de velhos feiticeiros.

Ribas e abismos que nunca tiveram
O desenho tirânico de um pé
Gravado na telúrica pureza,
Virgens como nasceram,
Perguntam inquietos como é
Essa graça da humana realeza.

Placidez


O cavaleiro da triste figura



D. Quixote e Sancho Pança. O Rocinante e o Ruço. O romantismo exacerbado e o prosaísmo sem voos. 400 anos de vida em comum. Inseparáveis. Legendários heróis do nosso imaginário.

Fumadores

Eu sei que faz mal. Eu sei que polui. Eu sei que incomoda. Eu sei isso tudo. Mas, e desculpem-me a arrogância, fumo quando me apetece e me é permitido, pronto!
Porque se a desculpa é o stress, disso padecemos quase todos, muito obrigada.

Domingo à tarde



Ontem, antes de dar o "bota fora" ao filhote mais novo, de regresso aos Algarves, ainda houve um tempinho para aproveitar o sol da tarde, deambulando por uma Lisboa domingueira, com ruas de pombos e pessoas nos seus vagares. Pretexto mais que suficiente para percorrer a Ajuda, ainda com o seu ar de fim de século - o dezanove, está bem de ver - namorando o rio e declinando calçadas encosta abaixo.
O avanço de uma inevitável renovação urbana está à vista nos novos arruamentos e moles de betão que surgem aqui e acolá. A degradação das habitações antigas é flagrante, apelando a um RECRIA qualquer que lhes deite a mão. No entanto, seria desejável que se preservassem espaços "castiços" como o Largo do Galvão com os seus "Vinhos e Tabacos" ou o Largo da Paz, aldeia dentro do bairro, roupas a secar nos estendais arvorados em espaço público.
Prolongando até ao cimo o sítio que já foi arrabalde, os moinhos de Santana já não desfraldam velas nem moem cereal, apesar de uma intervenção camarária lhes ter devolvido precariamente essa vocação, faz uma dúzia de anos. Mesmo assim, o jardim envolvente continua a apetecer a parzinhos abraçados, miudagem brincalhoa ou parlatório de velhotes, todos a aproveitar o sol de inverno enquanto não chega a friagem dos seus entardeceres.