sábado, agosto 21, 2004

Ah, gandas férias!

“Finalmente umas férias no Algarve, que isto não é só para os meus vizinhos do terceiro direito, ou para esse jete-sete que vem nas revistas que a patroa da minha Arlete leva lá para o salão de cabeleireira. E até foi ela que teve a ideia de virmos por aí abaixo, mais os filhos, em vez de passarmos as férias no parque de campismo da Caparica, como temos feito nos últimos dez anos. A gente lá até tem condições, comprámos uma rulote em segunda mão, que até está muito boa e foi barata (o diabo foi convencer o gajo que a vendeu a tirar 20 contos que, bem vistas as coisas, já nem era nova...), mas a minha Arlete e eu já começamos a estar fartos de passar as férias com os meus sogros, e mais os meus cunhados e os miudos aos fim de semana. E mais, eu não sou menos que os outros, porque até comprei um Audi num setande de usados a um amigo dum primo do meu cunhado, que me garantiu que era bom negócio, e tenho que mostrar que a gente não somos nenhuns pindéricos. Tomaram muitos! De maneira que, vai daí, a comadre da patroa da minha Arlete tem uma amiga que sabia duns apartamentos em Armação de Pera, baratos já se sabe, e lá se tratou de tudo: um T1, que chega perfeitamente para a gente os quatro, perto da praia, e dá cá quatrocentos e cinquenta euros por uma semana! Só espero que valha a pena, pois se a minha Arlete não estreia o fato de banho mais as calças e as blusas, para não falar no vestido para ir à noite à esplanada, que comprou à dona Lurdes que vai vender roupas lá ao salão, tudo a pagar em três vezes, bem tenho que a aturar mais à chaga da dona Eulália, a minha sogra.

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“Ora até que enfim! Chegámos e já me vejo lá em baixo na praia a amandar cada mergulho que até deixa as gajas de olhos esgazeados! Pois, que eu também me equipei antes de vir! Uns calções todos modernos, amarelos com uma risca roxa e outra verde, um boné da cor do glorioso, uma toalha que até tem um tigre estampado, e para rematar em beleza, uns óculos reibã, tudo ali da feira do Relógio, que eu já tinha encomendado ao Manel Cigano e ele nunca falta ao prometido.
“O T1 para onde a gente veio é que podia ser melhor, acho-o um bocadito acanhado. Diziam que até tinha garagem, mas o que não disseram é que a garagem é que é o T1! Paciência, o Audi tem que ficar na rua, mas é da maneira que o resto do pessoal cá do prédio até pode ver o carrão da família Pereira. Se calhar só têm uns carritos insignificantes e com mais de cinco anos…
“E a praia nem é assim tão perto, fica a quase meia hora a pé! A minha Sandra Priscila até já ia levando uma lamparina nas ventas por causa do irmão. O meu Fábio Marcelo disse que nem se importava nada, até tem o sequeite, mas ela ficou logo toda encaramelada, que se a gente tem carro não é para andar a pé! Pudera, não lhe custa a pagar a gasolina…

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“Ainda parece que foi ontem que a gente chegou e já estamos a encafuar a tralha toda no carro outra vez. Até já sinto a falta das futeboladas na praia, os chapões na água e o coiro a trabalhar pró bronze… E as sardinhadas, com o tintol que eu arranjei na tasca do fundo da rua, que até é dum gajo da minha terra? E a seguir, praia outra vez, que o tempo passa depressa e há que aproveitar bem o que se gastou. E cá eu e a minha Arlete fizemos um vistão, era todo o pagode a olhar para nós. A minha Sandra Priscila é que ia apanhando com outra lamparina, dizia que estavam era a gozar-nos por fazermos figura de bimbos! Lá porque quer tirar o curso de línguas já se julga mais que o pai e mãe… Que a gente não lhe falte com o pãozinho prá boca, grandessíssima mal-agradecida!
“E como ainda faltam uns quinze dias para acabar as férias, vamos passá-los à terra dos meus sogros, ali ao pé do Bombarral. Isso é que vai sair barato, que lá a gente não paga nada, apesar dos meus sogros estarem sempre a resmungar e a chamar-me gosma entre dentes… Então se a minha Arlete é filha deles, não fazem mais que a obrigação, não é verdade?
“E agora vamos meter à A2, que até Moscavide ainda levo bem duas horas!”

Começar de novo

Assim canta Simone, e é uma das minhas canções preferidas, como que emblemática. Mas este meu "começar..." não tem o mesmo contexto do da canção. Digamos que se trata mais de uma reciclagem de ideias, de intenções, de pretextos.
Uma paragem forçada por vários motivos deu-me tempo para repensar o que fazer com este blog. As ideias surgiram em catadupa, e ainda estou a ver como as irei aproveitar.
Para já, os "posts" sem ritmo definido, ao sabor do acaso ou da disponibilidade, em forma de comentário, de desabafo, de poema ou de simples e fácil "copy-paste", continuarão a ser a "marca de água" deste blog...