sexta-feira, novembro 28, 2008

Galiza - mote para outras glosas

Em épocas sucessivas de míngua para muitos, a Galiza, aquela "finisterra" de Espanha, foi flagelada por vagas de emigração, mais que não fosse descendo as estradas para sul e desembocando neste outro rincão pouco mais afortunado, a deitar mão ao que lhes aparecesse para assegurar sustento e agasalho.
"Galego" era tido como sinónimo de moço de fretes, cocheiro, carroceiro, ou taberneiro, entre outras ocupações menos "nobres". Tratados com sobranceria pelas lusas gentes, até se utilizava o termo "galegada" para rotular algum dito menos correcto ou atitude pouco urbana vindos de algum portuga castiço.
A verdade é que se desconhecia quase por completo a riqueza de uma cultura transfronteiriça, velha de muitos séculos. Essa cultura, as afinidades linguísticas, as tradições, eram do conhecimento de apenas alguns mais eruditos e transmitidas quase somente no âmbito de alguma formação académica. Iam caindo num cómodo esquecimento as atribulações históricas dos começos da portugalidade, porque de "Espanha, nem bom vento nem bom casamento"...
Ignoraram-se os artistas, os escritores, os poetas, os músicos. Restava o culto a Santiago, o de Compostela, que sempre moveu peregrinos por esses caminhos afora.
Só lá pela a década de '60 do século findo, nos chegam pela voz dos nossos cantores - Manuel Freire, Adriano - os belos e sensíveis poemas de Rosalia de Castro ou Manuel Maria, entre muitos outros. Mesmo a poesia trovadoresca dos alvores do segundo milénio parece tomar outro fôlego e (re)entrar nos nossos ouvidos. Começa o desenrolar de um novelo quase interminável, porque é cada vez mais intenso o intercâmbio cultural entre gentes a quem apenas um rio separa.