quinta-feira, dezembro 09, 2004

Aldraba em Óbidos


Tentando compensar as aldrabas roubadas ao Adufe...

Não quer, não coma. Mas pague!



Das duas uma: ou acabamos afogados em papel inútil ou o papel reciclado não tarda muito e está ao preço da uva mijona.

A gente compra o jornal de todos os dias, aos domingos com mais uma revista acoplada, e lá nos desabam em cima uns bons quilos de papel a mais, sem outro destino à vista que não seja o "papelão". Entretanto e pela surra sempre se vai deitando um rabo de olho a esses apêndices, só para ver com que parlapatice nos querem intrujar desta vez. E nem sempre sé é completamente imune à tentação de acreditar na excelência das balelas propagandeadas...
A propósito de tudo e de nada, há quem queira, por força de textos capciosos e imagens persuasivas, enfiar-nos pela casa dentro (e já agora pela cabeça também) as férias de sonho na República das Bananas, os miraculosos efeitos das pastilhas Tossikosp, as virtudes jamais sonhadas dos lacticínios Amojo-de-boi.
Automóveis, relógios, peças de joalharia, enciclopédias, tudo nos cai do céu por apenas vinte ou trinta e seis ou cinquenta suaves prestações, assim trombeteiam os insinuantes e atraentemente ilustrados panfletos que vêm a reboque do nosso modesto jornalzinho diário.
Se não os abandonamos logo na banca ou tabacaria onde compramos o dito diário, em sinal de pretensa indiferença, lá vêm para casa e vagabundeiam uns dias pela sala a servir de entretenimento aos gatos, são rebaixados a forro do caixote dos bichanos, até que... lixo com eles.

Resumindo e baralhando: usa-se e abusa-se da publicidade como de um imposto. Porque pagamos e a peso de ouro esta "inofensiva" invasão, lá isso pagamos, não haja a menor dúvida!

Natal 2.A árvore


...Por esta altura já a árvore de natal estaria pronta há muito tempo. Outros vagares, outras disponibilidades.
Em primeiro lugar, verificava-se o estado do caixote de madeira - produto das carpinteiras mãos do avô João, aproveitado tábuas sem outro uso à vista. Sempre me lembro de ver esse dito caixote, em forma de cubo e que, ano sim, ano não, o pai se esmerava a forrar com as pratas dos maços de tabaco que ia juntando. Fazia uma cola à base de farinha e água, parecida com massa de sapateiro, e com ela aplicava as pratas, dando-lhe um ar reluzente. O pinheirinho, trazido do pinhal ali perto (eram tantos e nasciam a esmo, que ninguém pensava em deflorestação), depois de bem escolhido, ponderada a altura, a redondeza da copa, a curva e o tamanho dos ramos, era erguido a preceito com a ajuda de uns pedregulhos, para que não tombasse antes do seu tempo. Enchia-se o resto com serradura, e cobria-se com musgo apanhado nas redondezas ou mesmo no quintal, onde por essa altura já abundava pelos muros virados a norte.
Passava-se então aos enfeites. As bolas coloridas eram engendradas a partir de bugalhos apanhados durante os passeios ao campo, onde se enfiava um arame fininho para pendurar, e revestidos com pratas de chocolates, coloridas, às flores, às bolinhas, enfim, o que também se ia arranjando. Alguns desses bugalhos, a certa altura, passaram a ser pintados com purpurina dourada ou prateada, o que lhes conferiu um estatuto de perenidade... Alguns brinquedos mais pequeninos, assumiam o papel de ornamento natalício e lá eram igualmente pendurados no pinheiro, a par com rebuçados ou bonecos de chocolate nos seus invólucros multicores. As fitas, umas mais farfalhudas outras mais carecas, davam mais um toque janota. Ah, e a neve? Pois, lá se ia ao maço de algodão e retiravam-se cuidadosamente pedacinhos muito finos, a dar a ilusão de flocos semeados a preceito pelos ramos do pinheiro. Luzinhas a piscar, por essa altura não as havia, que eram caras e a festa fazia-se bem sem elas.
Rematava-se tudo com uma estrela recortada em cartão, igualmente forrada com as pratas coleccionadas pelo pai, e era encavalitada no alto do pinheiro, onde fazia um vistão!
E para que era preciso mais, se a minha árvore de natal brilhava à mesma, na saleta da entrada, e o aroma do pinheiro se espalhava por toda a casa?