domingo, maio 01, 2005

Balada de Maio

Com uma papoila e uma espiga
fizeste a canção da manhã de maio.

Entre os passos apressados
dos que morrem devagar,
foste o grito, a gargalhada,
vendaval que chicoteia,
sonho de alma incendiada,
barco, moinho, maré,
fumaça de chaminé
em fábrica abandonada,
papel branco onde chapaste
cores ardentes de delírio.
Se alguém te viu, não o disse.
Se te encontrou, desviou-se.

E ao fim do dia, no exacto local,
trazias ainda na mão
uma espiga amarrotada,
uma papoila já murcha.
E os restos de ti mesmo,
sem saber o que fazer com eles.