De secular tradição, sempre me lembro de lá ir em pequena, já com tempo de chuva, desconforto amplamente compensado pelas castanhas assadas, a volta no carrocel e as quinquilharias de barro para brincar "às casinhas".
Muitos anos depois visito-a de novo, imaginando as grandes mudanças que uma outra forma de viver, entretanto adoptada, teriam igualmente chegado aqui.
De facto, muito néon, muito inox, muito plástico, alteraram uma fisionomia pacata, sem grandes pretensões, de uma feira tipicamente saloia, onde se vendia um pouco de tudo o que era necessário ao pequeno mundo rural das terras ao redor: desde as enxadas, sachos, sacholas, batata para a semeadura, cebolinho, alface e couve para dispor nas hortas, de tudo se podia encontrar. Desde a roupa de trabalho, botas cardadas ou grosseiras socas, até à farpela endomingada de ir à missa e namoriscar as moçoilas no adro da igreja.
No entanto, dia de semana não é dia que renda a um feirante. Muitas são as bancas vazias, espaço guardado para o próximo fim de semana, que o negócio está difícil e se não se vende aqui pode ser que se venda acolá. Animar-se-ão à noite os tascos, perdão, os restaurantes, que a "carne de porco à moda das Mercês" não é petisco de enjeitar, mesmo em tempo de vacas magras ou gripe das aves.
E entre os barros e cobre reluzentes, cor do Outono que vai avançando, há quem aproveite para lavar a roupa da semana ou passar o tempo diante da telenovela favorita, um olho no televisor e outro no potencial freguês.
Não falta a confortável moda dos edredons, essa lá está também, cores berrantes a atrair o olhar, preços convidativos para bolsa de fim de mês.
De qualquer modo, uma água-(de)pé recém saída do pipo, ajuda a esquecer tristezas e a descer a velha Estrada do Muro do Derrete com um ânimo mais arribado e passo mais incerto...
E para o ano, como será?