sexta-feira, setembro 10, 2004

Novidades(?)

De há uns anos largos a esta parte tem sido o Público o meu jornal diário, porque o considero relativamente isento e, em caso de dúvidas, leio nas entrelinhas e depois faço a média. Hoje fiquei literalmente de boca aberta quando o comecei a ler. Pensei que tinha voltado a ter nas mãos o Diário Popular ou o Século doutros tempos. Primeira página demolidora! Segunda página animadora! Não fossem este e este, e ainda eu pensaria que estávamos no dia das mentiras!
Mas esta, a ser verdade, é que é "de cabo de esquadra"!

Ouro sobre azul: Mozart e Chagall

As feiras


A primeira de que me lembro era a feira da Agualva. Eu chamava-lhe a "feira dos cavalinhos", porque o que mais me atraía nela eram precisamente os cavalinhos do carrossel... Em Maio, durava o tempo entre dois fins de semana, e eu aguardava-a com sofreguidão. Ao domingo pela manhã, quando tudo ainda estava tranquilo e a feira se virava quase exclusivamente para os labores da terra, iam o meu pai ou o meu avô "mercar" as mudas de alfaces e de couves, o cebolinho em bacelo, mais uma sachola para o hortejo. De caminho, eu que não era capaz de ficar em casa em tais ocasiões, também "enfeirava" um alguidarinho de barro ou uma panelita de folha para as brincadeiras com as bonecas. Mas aquela fantasia de cores da feira, mesmo com as diversões em descanso, dava-me suficiente água na boca para lá voltar pela tarde e, então sim, andar no carrossel ao sabor de uma fartura! E quem julgue que a feira acabava no fim de Maio, desengane-se: Junho já ia adiante e os feirantes, desarmadas as tendas, enfiavam a mercadoria nos alforges do burro e andarilhavam de porta em porta, tentando ganhar mais uns parcos tostões com as sobras... antes que se escaqueirassem. E sempre havia quem comprasse mais um alguidar de barro para lavar a roupa ou um tacho para o assado. Era um pouco como se a feira se fosse despedindo devagarinho...
Incongruência ou não da minha parte, apesar da torrente dos plásticos, das cassetes e CD's piratas, do pronto-a-vestir de fancaria, do artesanato tão inverosímil como repetitivo, mesmo sem os antigos cacarecos de barro, a feira, todas as feiras ainda hoje me fascinam. Seja onde for, aqui mesmo á porta ou em Trás-os-Montes ou no Alentejo, os feirantes têm em mim freguesa afiançada ou mera observadora da mercadoria exposta.