segunda-feira, janeiro 17, 2005

Miguel Torga

(Rubens)
A Diana
Senhora, minha esquiva namorada,
Que Rubens retratou de seio ao vento:
Que fresca e promissora madrugada,
E que amigo convite ao movimento!

Vão acordando os montes na lonjura,
Orvalhados da seiva que beberam
Durante o sono;
E erguem-se da negra sepultura,
Onde à noite desceram,
Os matizes do outono...

Táctil e sezonado,
Vem ao nariz o cheiro dos valeiros;
E são urzes, e fetos, e o sagrado
Rosmaninho florido e desfolhado,
Na retorta de velhos feiticeiros.

Ribas e abismos que nunca tiveram
O desenho tirânico de um pé
Gravado na telúrica pureza,
Virgens como nasceram,
Perguntam inquietos como é
Essa graça da humana realeza.