Miguel Torga
(Rubens)
A Diana
Senhora, minha esquiva namorada,
Que Rubens retratou de seio ao vento:
Que fresca e promissora madrugada,
E que amigo convite ao movimento!
Vão acordando os montes na lonjura,
Orvalhados da seiva que beberam
Durante o sono;
E erguem-se da negra sepultura,
Onde à noite desceram,
Os matizes do outono...
Táctil e sezonado,
Vem ao nariz o cheiro dos valeiros;
E são urzes, e fetos, e o sagrado
Rosmaninho florido e desfolhado,
Na retorta de velhos feiticeiros.
Ribas e abismos que nunca tiveram
O desenho tirânico de um pé
Gravado na telúrica pureza,
Virgens como nasceram,
Perguntam inquietos como é
Essa graça da humana realeza.
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