Natal 2.A árvore
...Por esta altura já a árvore de natal estaria pronta há muito tempo. Outros vagares, outras disponibilidades.
Em primeiro lugar, verificava-se o estado do caixote de madeira - produto das carpinteiras mãos do avô João, aproveitado tábuas sem outro uso à vista. Sempre me lembro de ver esse dito caixote, em forma de cubo e que, ano sim, ano não, o pai se esmerava a forrar com as pratas dos maços de tabaco que ia juntando. Fazia uma cola à base de farinha e água, parecida com massa de sapateiro, e com ela aplicava as pratas, dando-lhe um ar reluzente. O pinheirinho, trazido do pinhal ali perto (eram tantos e nasciam a esmo, que ninguém pensava em deflorestação), depois de bem escolhido, ponderada a altura, a redondeza da copa, a curva e o tamanho dos ramos, era erguido a preceito com a ajuda de uns pedregulhos, para que não tombasse antes do seu tempo. Enchia-se o resto com serradura, e cobria-se com musgo apanhado nas redondezas ou mesmo no quintal, onde por essa altura já abundava pelos muros virados a norte.
Passava-se então aos enfeites. As bolas coloridas eram engendradas a partir de bugalhos apanhados durante os passeios ao campo, onde se enfiava um arame fininho para pendurar, e revestidos com pratas de chocolates, coloridas, às flores, às bolinhas, enfim, o que também se ia arranjando. Alguns desses bugalhos, a certa altura, passaram a ser pintados com purpurina dourada ou prateada, o que lhes conferiu um estatuto de perenidade... Alguns brinquedos mais pequeninos, assumiam o papel de ornamento natalício e lá eram igualmente pendurados no pinheiro, a par com rebuçados ou bonecos de chocolate nos seus invólucros multicores. As fitas, umas mais farfalhudas outras mais carecas, davam mais um toque janota. Ah, e a neve? Pois, lá se ia ao maço de algodão e retiravam-se cuidadosamente pedacinhos muito finos, a dar a ilusão de flocos semeados a preceito pelos ramos do pinheiro. Luzinhas a piscar, por essa altura não as havia, que eram caras e a festa fazia-se bem sem elas.
Rematava-se tudo com uma estrela recortada em cartão, igualmente forrada com as pratas coleccionadas pelo pai, e era encavalitada no alto do pinheiro, onde fazia um vistão!
E para que era preciso mais, se a minha árvore de natal brilhava à mesma, na saleta da entrada, e o aroma do pinheiro se espalhava por toda a casa?
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