sexta-feira, março 11, 2005

Violência não tem dia certo


Quando me falam em violência só consigo lembrar-me deste poema do Manuel Alegre.
Nambuangongo meu amor
Em Nambuangongo tu não viste nada
não viste nada nesse dia longo longo
a cabeça cortada
e a flor bombardeada
não tu não viste nada em Nambuangongo

Falavas de Hiroxima tu que nunca viste
em cada homem um morto que não morre.
Sim nós sabemos Hiroxima é triste
mas ouve em Nambuangongo existe
em cada homem um rio que não corre.

Em Nambuangongo o tempo cabe num minuto
em Nambuangongo a gente lembra a gente esquece
em Nambuangongo olhei a morte e fiquei nu. Tu
não sabes mas eu digo-te: dói muito.
Em Nambuangongo há gente que apodrece.

Em Nambuangongo a gente pensa que não volta
cada carta é um adeus em cada carta se morre
cada carta é um silêncio e uma revolta.
Em Lisboa na mesma isto é a vida corre.
E em Nambuangongo a gente pensa que não volta.

É justo que me fales de Hiroxima.
Porém tu nada sabes deste tempo longo longo
tempo exactamente em cima
do nosso tempo. Ai tempo onde a palavra vida rima
com a palavra morte em Nambuangongo.

2 Opiniões:

Blogger Pedro Farinha opinou...

Este poema conheci-o ainda menino na voz do Paulo de Carvalho. É daqueles que realmente marcam.

segunda mar. 14, 11:53:00 da tarde  
Anonymous Anónimo opinou...

Vou ter de cantar esta canção e ao trabalhá-la, mais e mais me entra no sangue o sangue de «cada homem que é um morto que não morre»...

segunda abr. 04, 10:11:00 da tarde  

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