Ainda "sulitaneando"
Em jeito de comentário o João deixou esta preciosa deixa: "(...)Mas reparo que ninguém referiu o verdadeiro segredo da Sulitânia (falo dos sabores, quanto ao resto, o mérito pertence ao Isidoro): o facto de a cozinheira ser uma ex-contabilista! Quem melhor que uma pessoa que, depois de se consumir profissionalmente com os deves e os haveres mais os pagamentos do IRC e do IVA, para renovar e partilhar os seus projectos através do poejo, das migas e da doçaria?" Ora bem, se as finanças desta terra perderam uma perita no "rapa, deixa, tira, põe" do IRS, IVA, IRC, mas outros impostos, taxas, derramas, contribuições e afins, tudo a bem da nação e a mal dos bolsos de quem não tem outro remédio senão sustentar malandragens, em troca ganharam e bem os paladares de exigentes gastrónomos ou meros consumidores de lautas comedorias, pois o desfile de pitéus desta ex-contabilista degustam-se com o prazer inverso àquele de pagar ao fisco um tostão que seja! Com a larga vantagem de não nos provocarem qualquer tipo de indisposição, seja ela azia ou dor de cabeça. Gabe-se pois a Sulitânia e o Isidoro, que é de Machede, pois claro!, de ter resgatado tão santas mãos a tão daninho ofício. Por mim, lá voltarei com prazer, mais que não seja para falar de temperos e aromas, de doces e de outros delírios. |
3 Opiniões:
O Isidoro não é homem para deixar estas minudências ao acaso. É meticuloso na arte de bem confeccionar e servir em ambiente adequado e, por tal, quer-me cá parecer que terá sido mesmo ele quem terá ajudado tão acuradas mãos a trocar a escrita pela paladar refinado.
Já agora, partilho do porque da "marosca" de lá ter ido de véspera da vossa convenção e sem aviso prévio nem identificação. Quando chegámos e nos sentámos, ainda o Isidoro não tinha chegado (o compadre faz Évora-Vimieiro-Évora para tratar da Sulitânia). Deu para calmamente escolher mesa, esquadrinhar os cantos à casa, admirar os pormenores da decoração, meter conversa com o jovem empregado de mesa (a quem sacámos a preciosa curiosidade da cozinheira-contabilista), reler o livro de bordo, escolher ementa e tinto sem a influência do patrão. Já estávamos a atacar o prato quando chegou (reconhecível à légua por causa dos suspensórios e do íntimo respirado) o Joaquim/Isidoro que nos olhou discretamente mas curioso, cumprimentando urbanamente. Perguntámos se não era servido e ele lá se escusou sem confessar que era patrão da coisa. Entretanto, na tal química dos que andam nisto há uns anitos, via-se-lhe nos olhos que ele nos cheirava como gente de bem, que ali não tinha caído por acaso e que devia andar blogue pela moirama. No final do repasto, laranjas a nadar no azeite com mel (uma delícia!), pedimos foto de grupo mas requeremos a presença do Joaquim para partilhar o instantâneo. O Isidoro/Joaquim lá veio a remoer desconfianças mas decerto intrigado com o enigma das identidades. Sentou-se, disse uma laracha de cortesia, justificou-se com o atraso para os tratos com as coisas das burocracias, seguiu-se troca de sub-entendidos sobre Ventil com pesticida e uísque com água lisa, e pronto - os olhos abriram-se e a conversa correu solta no jeito que ele defeniu não como encontro mas sim como reencontro. Claro que a conversa foi o melhor da ementa. É que demos uma volta quase completa ao mundo (e a mistura Alentejo/Moçambique é explosiva!), tecendo cumplicidade de estares. E nisso ele escreve com razão: parecia que, apesar de nunca nos termos fisicamente encontrado, andamos juntos há uma porrada de anos. As migas, o tinto e tudo o resto estavam mais que bem, mas eu não perco esta mania: nada há de mais saboroso e melhor neste mundo que as pessoas (quando não são a pior coisa à face da terra). O resto só serve para a gente se sentir bem. É para isso, só para isso, que serve uma boa mesa com um bom tinto plantado em cima. Feitios. Beijo amigo. João Tunes.
E fizeste tu muito bem, João Tunes! Congeminava eu mais a minha sobrinha bloguista irmos lá os dois casais, assim como quem não quer a coisa, e vermos no que dava a visita assim de surpresa. Eis senão quando, deparamos as duas com o mesmo convite nas respectivas caixas de correio! A ela foi impossível responder á chamada, e eu enquanto andava entre o balança-não-cai, olha, decidi mesmo ir. Gostei de tudo, do grupo, do Isidoro, da Sulitânia, do convívio, mas tenho cá pra mim que voltarei não tarda "uma loja de barbeiro", assim dizia o meu avô, mais que não seja para melhor usufruir da companhia e da conversa, sem horários nem compromissos, do nosso Isidoro. ;))
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