Manhã de sábado
Sete horas. A manhã está ensolarada e calma, unicamente enfeitada com o matinal melro que “mora” aqui em frente, as rolas que se mudaram não sei para que árvore das redondezas e a pardalada da faia lá ao fundo da rua, que se faz à vida. Hoje não se ouvem passos apressados pela escada abaixo nem a porta da rua a bater em cadência enfadonha.
Sete e meia. Do outro lado do largo, começam a chegar os ruídos dos ferros que se descarregam e as marteladas que os fixam no já maltratado pavimento. Vozes dão ordens ou trocam dichotes. Anuncia-se a feira que daqui a pouco vai animar esta “aldeia”.
Dez horas. De alcofa na mão, é a minha vez de me misturar ao bulício no seu auge, não sem antes ir tomar a indispensável “bica” no acolhedor café da D. Isabel, a esta hora cheio de gente. Abundam os ciganitos, a pedir chupas e gomas, que as mães, entretidas com um galão e um queque, lá vão pagando, entre uma reprimenda e um encolher de ombros, certas de reaver a despesa da canalha com a venda de mais uma t-shirt.
“É três peças cinco euros, só cinco euros!”, “A cuequinha a um euro!”, “Ó crida pode esprimentar a texérte, é de marca!”, “Ai não gosta? O raio da m’lher é muito fina!”, esganiçam-se elas e eles atrás das precárias bancas, montadas sobre cavaletes periclitantes e placas de cartão prensado que já viram mil e uma feiras. Às vezes, sob o peso da mercadoria ou da mão de uma potencial freguesa mais alentada, lá vai tudo parar ao chão, ao da rua, que lá por casa já o varreu e serviu de cama a cães ou gatos!...
Por entre roupas de contrafacção e duvidoso gosto, loiças e plásticos para todos os usos, grades com galinhas e coelhos vivos, “Leve á confiança, que não tem moléstia...”, arribamos á zona das hortaliças e frutas, na maioria e felizmente oriundos de hortas e pomares caseiros, tratados quase sem pesticidas nem adubos sintéticos, mas também sem o ostensivo rótulo de “ecológico”.
Entre verdes exuberantes de couves e alfaces colhidas de véspera, pavoneiam-se tomates, cenouras, pimentos, exibindo a alacridade do seu colorido e frescura. A adocicada cebola nacional e a batata olho-de-perdiz disputam espaço e primazia com maçãs bicadas por pássaros atrevidos, pêssegos aveludados e sumarentos, cachos de uva moscatel que só nestes sítios é possível encontrar. Cheiros a terra e a louro, a suor e a coentros...
Culmina-se o giro das compras com o apetitoso pão de Mafra e os parrameiros saloios, gostosos a limão e erva-doce e saboreados com gulodice no rápido caminho de regresso a casa.
Fim-de-semana na minha quase aldeia ás portas de Lisboa, tentando entender, à luz destas coisas aparentemente simples, outras e outras e outras e ainda outras mais complicadas que nos ensombram a existência neste prenúncio de Outono.
Sete e meia. Do outro lado do largo, começam a chegar os ruídos dos ferros que se descarregam e as marteladas que os fixam no já maltratado pavimento. Vozes dão ordens ou trocam dichotes. Anuncia-se a feira que daqui a pouco vai animar esta “aldeia”.
Dez horas. De alcofa na mão, é a minha vez de me misturar ao bulício no seu auge, não sem antes ir tomar a indispensável “bica” no acolhedor café da D. Isabel, a esta hora cheio de gente. Abundam os ciganitos, a pedir chupas e gomas, que as mães, entretidas com um galão e um queque, lá vão pagando, entre uma reprimenda e um encolher de ombros, certas de reaver a despesa da canalha com a venda de mais uma t-shirt.
“É três peças cinco euros, só cinco euros!”, “A cuequinha a um euro!”, “Ó crida pode esprimentar a texérte, é de marca!”, “Ai não gosta? O raio da m’lher é muito fina!”, esganiçam-se elas e eles atrás das precárias bancas, montadas sobre cavaletes periclitantes e placas de cartão prensado que já viram mil e uma feiras. Às vezes, sob o peso da mercadoria ou da mão de uma potencial freguesa mais alentada, lá vai tudo parar ao chão, ao da rua, que lá por casa já o varreu e serviu de cama a cães ou gatos!...
Por entre roupas de contrafacção e duvidoso gosto, loiças e plásticos para todos os usos, grades com galinhas e coelhos vivos, “Leve á confiança, que não tem moléstia...”, arribamos á zona das hortaliças e frutas, na maioria e felizmente oriundos de hortas e pomares caseiros, tratados quase sem pesticidas nem adubos sintéticos, mas também sem o ostensivo rótulo de “ecológico”.
Entre verdes exuberantes de couves e alfaces colhidas de véspera, pavoneiam-se tomates, cenouras, pimentos, exibindo a alacridade do seu colorido e frescura. A adocicada cebola nacional e a batata olho-de-perdiz disputam espaço e primazia com maçãs bicadas por pássaros atrevidos, pêssegos aveludados e sumarentos, cachos de uva moscatel que só nestes sítios é possível encontrar. Cheiros a terra e a louro, a suor e a coentros...
Culmina-se o giro das compras com o apetitoso pão de Mafra e os parrameiros saloios, gostosos a limão e erva-doce e saboreados com gulodice no rápido caminho de regresso a casa.
Fim-de-semana na minha quase aldeia ás portas de Lisboa, tentando entender, à luz destas coisas aparentemente simples, outras e outras e outras e ainda outras mais complicadas que nos ensombram a existência neste prenúncio de Outono.
1 Opiniões:
Por vezes o melhor é mesmo tentar deixar de tentar entendermos as "coisas" e apreciar mais as outras, tais como as garças que aparecem na quinta á frente da minha janela, á procura da comida na terra húmida da manhã.
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