(In)sensibilidades
Ia eu andando por aqui, bisbilhotando os blogues alheios, e nem cheguei a ir muito longe para ficar emocionada. Algures por aqui encontro um médico perturbado porque um seu doente ainda crê poder curar-se, quando já mal lhe restará um ano de vida. Em jeito de mentira piedosa (ou simples omissão…) o besugo deixa-o viver na ilusão de que sim, de que para o ano se repetem os mesmos ciclos da natureza com ele a assistir a pé firme. Porque o César – o doente – assim o crê e o quer. Que aconteceria ao César se o médico lhe dissesse, de uma vez por todas, que se deixasse de quimeras?
Em paralelo, lembro-me da minha amiga T., com 49 anos e que desde os 43 tem passado o seu tempo entre operações e terapias diversas, tendo chegado já à dependência da morfina. Quando se sente com um mínimo de forças e sem dores, arranca para um passeio a qualquer lado, uma ida à discoteca, ou uma simples saltada até à Foz para ver o por-do-sol e comer uma “francesinha”. A T. sabe que vai morrer e isso não a assusta. Vive um dia de cada vez com a mesma avidez com que viveu antes de adoecer. E ficou indignadíssima com um médico que, observando-a pela primeira vez há um ano lhe disse, sem quaisquer escrúpulos, não valer a pena perder tempo com mais operações ou terapias porque ela não teria mais que meia dúzia de meses à sua frente!... Mais que a insensibilidade do médico, foi a secura da declaração, o que chocou a T.
T. e César. Um médico e outro médico. Duas situações semelhantes. Mas também duas formas diametralmente opostas de estes binómios médico-doente conviverem com a mesma realidade, tão diversa tanto no aceitar como no enunciar.
Em paralelo, lembro-me da minha amiga T., com 49 anos e que desde os 43 tem passado o seu tempo entre operações e terapias diversas, tendo chegado já à dependência da morfina. Quando se sente com um mínimo de forças e sem dores, arranca para um passeio a qualquer lado, uma ida à discoteca, ou uma simples saltada até à Foz para ver o por-do-sol e comer uma “francesinha”. A T. sabe que vai morrer e isso não a assusta. Vive um dia de cada vez com a mesma avidez com que viveu antes de adoecer. E ficou indignadíssima com um médico que, observando-a pela primeira vez há um ano lhe disse, sem quaisquer escrúpulos, não valer a pena perder tempo com mais operações ou terapias porque ela não teria mais que meia dúzia de meses à sua frente!... Mais que a insensibilidade do médico, foi a secura da declaração, o que chocou a T.
T. e César. Um médico e outro médico. Duas situações semelhantes. Mas também duas formas diametralmente opostas de estes binómios médico-doente conviverem com a mesma realidade, tão diversa tanto no aceitar como no enunciar.
1 Opiniões:
A sensiblidade dos médicos é fundamental para o bem estar do paciente. O problema é que há muitos médicos que nasceram sem vocação para tal, e exercem a profissão tal como pedreiros (por vezes estes têm mais sensibilidade em construir), e conheço muitos exemplos, infelizmente de pessoas próximas, que tiveram a infelicidade de serem tratados por esses indivíduos. Mas ainda bem que existe o outro lado, como tudo na vida, e também conheço pessoas que tiveram a felicidade de seram tratados por médicos excelentes, tanto no aspecto humano, como profissionalmente. Alguns ainda estão por cá, outros não. Uma vez que quase que não existem profissionais de psicologia a acompanhar doentes graves, os médicos têm alguma responsabilidade de se ocuparem também desse lado. Muitas vezes os doentes, psicologicamente, não são capazes de enfrentar a doença, e isso faz com que as forças fisicas diminuam. É muito importante o psíquico de alguém que se encontra em situações graves, muitas vezes é essencial para sobreviver. Sei que este comentário é muito longo, mas este assunto já foi, por algumas vezes, muito próximo de mim, e toca-me bastante.
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