Sim, senhor encarregado-de-educação
Suponhamos que eu ainda não teria visto, ouvido ou lido a mais pequena notícia sobre a proposta “luminosa” da Ministra da Educação. Suponhamos que nunca teria sido encarregada de educação e, como tal, nunca conheci professores dentro da escola, nunca participei em reuniões de turma, nunca soube o que era ser aluno hoje. Enfim, suponhamos que, mesmo que a premissas anteriores fossem falsas, achava que pai/mãe ou filho-aluno estão plenamente conscientes dos seus respectivos papéis na comunidade escolar, perfeitamente integrados na mesma, em completa comunhão de conceitos de ensino e educação com os docentes. Assim mesmo, ou por isso mesmo, não posso evitar que a pele se me arrepanhe ao saber da insistência da dita ministra.
Ora bem, na realidade tive contactos diversos e ao longo de anos com esse pequeno grande mundo em que decorre o crescimento de uma criança ou adolescente. Durante quase duas décadas vi o que (alguns) pais exigiam da escola e dos professores e até que ponto eram permissivos com os próprios filhos. A criança é turbulenta e desacata toda a aula? Coitadinho, ele tem muita energia, sabe... O adolescente agride verbal ou fisicamente o professor? São as companhias, a gente está em casa [ou no trabalho] e não sabe o que eles fazem cá fora... O rendimento escolar é baixo? Pois, os professores hoje já não ensinam como antigamente...
Vai daí, a criança, o adolescente ou o jovem, eram/são desresponsabilizados dos seus maus comportamentos, fraco aproveitamento, absentismo, etc., porque há sempre uma desculpa a favor deles.
Não quero sequer referir a adequação, ou a sua falta, dos programas escolares às necessidades reais deste país. Tão pouco me passa pela cabeça abordar as sucessivas e discutíveis reformas educativas. Para tal me falta o necessário saber e remeto-me à minha modesta posição [mas posição de cidadã atenta e interveniente de que não faço tenção de me desviar]. No entanto, é sabido que pais e mães, por motivos frequentemente alheios á sua vontade, cada vez mais afastam dos filhos a atenção que lhes é devida [pano para outras mangas...].
Coloca-se na “escola” (tal e qual, no abstracto) a responsabilidade da orientação total de um filho. Muitos vão à reunião de pais com a directora de turma apenas para saber como irão ser as notas do fim do período, sem tentar sequer aprofundar um debate em parâmetros mais alargados [assisti a este tipo de atitude vezes sem conta]. Ao fim de um par de horas nestes entremezes, o/a professor/a, cansado, dá por terminado o encontro, quantas vezes com a sensação de frustração e tempo perdido! E pronto. Daí a uns tempos, sem virar o disco toca-se o mesmo.
Ora bem, na realidade tive contactos diversos e ao longo de anos com esse pequeno grande mundo em que decorre o crescimento de uma criança ou adolescente. Durante quase duas décadas vi o que (alguns) pais exigiam da escola e dos professores e até que ponto eram permissivos com os próprios filhos. A criança é turbulenta e desacata toda a aula? Coitadinho, ele tem muita energia, sabe... O adolescente agride verbal ou fisicamente o professor? São as companhias, a gente está em casa [ou no trabalho] e não sabe o que eles fazem cá fora... O rendimento escolar é baixo? Pois, os professores hoje já não ensinam como antigamente...
Vai daí, a criança, o adolescente ou o jovem, eram/são desresponsabilizados dos seus maus comportamentos, fraco aproveitamento, absentismo, etc., porque há sempre uma desculpa a favor deles.
Não quero sequer referir a adequação, ou a sua falta, dos programas escolares às necessidades reais deste país. Tão pouco me passa pela cabeça abordar as sucessivas e discutíveis reformas educativas. Para tal me falta o necessário saber e remeto-me à minha modesta posição [mas posição de cidadã atenta e interveniente de que não faço tenção de me desviar]. No entanto, é sabido que pais e mães, por motivos frequentemente alheios á sua vontade, cada vez mais afastam dos filhos a atenção que lhes é devida [pano para outras mangas...].
Coloca-se na “escola” (tal e qual, no abstracto) a responsabilidade da orientação total de um filho. Muitos vão à reunião de pais com a directora de turma apenas para saber como irão ser as notas do fim do período, sem tentar sequer aprofundar um debate em parâmetros mais alargados [assisti a este tipo de atitude vezes sem conta]. Ao fim de um par de horas nestes entremezes, o/a professor/a, cansado, dá por terminado o encontro, quantas vezes com a sensação de frustração e tempo perdido! E pronto. Daí a uns tempos, sem virar o disco toca-se o mesmo.
Em traços largos, toscos, inevitavelmente pessoais e, como tal, limitados, foi esta a visão que me ficou da intervenção dos pais na escola. Dos pais, não. De uma boa parte dos pais. E é (também) desses que a senhora ministra espera a suma profundidade de discernimento para dela fazer depender a carreira profissional dos professores. Estará ela à espera que estes se tornem máquinas comandadas à distância, respondendo a tudo e a nada “sim, senhor-encarregado-de-educação”?
9 Opiniões:
Primeiro: Parabéns pelo artigo.
Sim Guida, infelizmente fazes um retrato bem real da situação, infelizmente porque todos preferiríamos que assim não fosse, mas é!
1º poucos são os pais que vão às escolas e sabem desempenhar minimamente a sua função de encarregados de educação! (o vulgar é demitirem-se desse papel e os professores terem que ser também pais);
2º a grande maioria nem sabe rigorosamente nada do que se passa com os seus filhos ao longo do ano lectivo, nem ao nível disciplinar nem de aproveitamento ou capacidades (a não ser que surja um problema grave);
3º os pais podem conhecer o Director de Turma, mas não conhecem cada professor, de cada disciplina e se conhecerem algo é totalmente manipulado pelo aluno;
4º vulgarmente o professor é bom se dá boas classificações, é mau se não dá ao filhinho uma "nota" para passar!
É com esta subjectividade, com esta falta de realismo que querem avaliar os professores?
Há bons e maus professores, como em qualquer profissão, é um facto, mas os pais, que competência têm para avaliar? Um professor teve que aprender a avaliar! Como é que vai ser avaliado por alguém que não tem essas competências?
E sabes que mais?
Pelo que li da proposta o professor também vai ser avaliado em função dos bons ou maus resultados que os alunos obtêm! Quer dizer, se o aluno não trabalha, não progride, porque é insolente e preguiçoso, o professor é que é penalizado! Mesmo que tenha feito o pino para o motivar!
Uma avaliação perversa, direi eu... mas sou suspeita, porque como sabes até sou professora.
Mas muito mais haveria dizer/criticar sobre este novo modelo de avaliação...
Um beijinho
P.S. Já regressei ao trabalho.
Fui recebida com beijos e abraços por parte de muitos alunos, inclusivé alguns que nunca tiveram sequer uma positiva ao longo do ano, mas são boas pessoas, mesmo sendo péssimos alunos, e isso é mais importante para mim!
Subscrevo.
A ministra apenas demonstra que, tal como muitos dos seus colegas de Governo, não faz a menor ideia de como é o país em que vivemos.
Paula:
É com muito agrado que fico a saber da tua completa recuperação e do regresso à s funções.
Quanto ao teu comentário, só não me alarguei em considerandos semelhantes pois, como disse, a minha experiência é mais de um lado que do outro. O que não quer dizer que não observasse esse outro lado e visse o que por lá existe de bom ou de menos bom. Até como autarca que fui, com o pelouro da Educação...
Os vossos sindicatos que ponham a corer um abaixo-assinado contra esta medida da srª. ministra que eu assino sem sombras de dúvida|
Beijinho.
Guida
ainda bem que já viste o meu comentário.
Peço desde já desculpas, mas não pude resistir e, mesmo sem a tua autorização, coloquei o teu texto no meu blog, com mais uns considerandos meus.
É demasiado perverso para se passar ao lado!
Espero que realmente desta vez não haja um sindicato espertinho a assinar pela calada da noite semelhante inferno!!!
Sim já estou ao serviço, embora ainda não recuperada totalmente, mas chamou-me a vocação, as saudades e o facto de já não suportar estar fechada nesta concha.
Há bons e maus professores, tal como há bons e maus encarregados de educação.
Dizer que os EE's não estão em condições de avaliar os professores porque só pensam nas notas, é o mesmo que dizer que a escola não presta porque há professores que só pensam em receber o ordenado no fim do mês.
É um discuros simplista e enganador.
É importante que os bons professores se distingam dos maus. É importante que os bons professores sejam recompensados e os maus sejam advertidos (e eventualmente punidos!).
E se os sindicatos de professores não gostam desta proposta da Ministra, então devem apresentar uma proposta alternativa que vise efectivamente fazer essa distinção (esqueçam o igualitarismo!).
Concordo com a avaliação, acho-a necessária mas tem que ser feita nas escolas e não nos gabinetes, tem que ser feita tendo em conta o mundo real e não a versão de gabinetes.
Em que Escola está esta professora?
Joaquim Baptista: creio dever ser a Ana Cristina a responder-lhe... se assim o entender, claro. Um abraço.
Caríssimo Marco: Há por aqui qualquer mal-entendido, e até admito que seja meu. Há professores bons, maus e assim-assim, passando por todas as nuances. Nunca a preto e branco. Tal como com os EE's. Como referi, falei da minha experiência de EE e do contacto que tive com outros EE's. E não retiro uma vírgula!
Tenho também em consideração, apesar de não ter ficado expresso na postagem, o cada vez mais vincado espírito de individualismo que grassa na nossa sociedade. Inclui EE's e professores. Mas mesmo neste - e só neste - pé de igualdade, deverá ser o Sr.Silva, ou Sousa ou Pinto, a quem só preocupa o aproveitamento do seu menino, que por acaso até se está nas tintas para a escola, a pontuar para mais ou para menos o/a professor/a do dito jovem? Haja Associações de Pais com a noção do que é intervenção cívica, de qual é o seu papel na sociedade em que vive, e caso já muda de figura. Mas não é o que, em 90% das situações, acontece. E os Sindicatos, na minha opinião, também não estão a ajudar nada. Mas isso já outra história...
Estou consigo, Marco, que tambem entre os professores se deve distinguir e separar o trigo do joio. Mas que o faça quem disso saiba!
Um abraço.
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