Três poemas de Manuel da Fonseca
Noite de Verão
Quando é no Verão das noites claras
e faz calor dentro da gente,
... aquela menina casadoira,
que mora junto ao largo
vem à varanda ver a Lua,
Roçando o corpo, devagar,
descem por ela as mãos da noite:
sente-se nua.
Sente-se nua, na varanda,
já tão senhora do seu destino,
sem medo às estrelas nem às mãos da noite
— mas baixa os olhos se algum homem passa.
Maria Campaniça
Debaixo do lenço azul com sua barra amarela
os lindos olhos que tem!
Mas o rosto macerado
de andar na ceifa e na monda
desde manhã ao sol-posto,
mas o jeito
das mãos torcendo o xaile nos dedos
é de mágoa e abandono...
Ai Maria Campaniça,
levanta os olhos do chão
que eu quero ver nascer o sol!
Noite de sonhos voada
Noite de sonhos voada
cingida por músculos de aço
profunda distância rouca
da palavra estrangulada
pela boca amordaçada
noutra boca
ondas do ondear revolto
das ondas do corpo dela
tão dominado e tão solto
tão vencedor, tão vencido
e tão rebelde ao breve espaço
consentido
nesta angústia renovada
de encerrar
fechar
esmagar
o reluzir de uma estrela
num abraço
e a ternura deslumbrada
a doce funda alegria
noite de sonhos voada
que pêlos seus olhos sorria
ao romper de madrugada:
— Ó meu amor, já é dia!...
5 Opiniões:
excelente escolha. Que bom é reler o Manuel da Fonseca! E que luxo de ilustrações, bem merecido por estes leitores fiéis.
Jinhos
L.
Bons poemas...
Já agora, uma pergunta: a figura da Maria Campaniça provém de onde?
Personagem lendária, ou não?
patrimonios.blog.com
Amigo Sertorius: Campaniços são em geral chamados os camponeses (trabalhadores rurais, do campo) no Alentejo. Maria Campaniça poderá ser uma ceifeira ou mondadeira, por exemplo.
Obrigado pelo esclarecimento!
Bela fotografia a do 'Outono em Sintra'.
patrimonios.blog.com
boas
seria possivel arranjar a letra opera do maltês do manuel da fonseca.
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